terça-feira, 4 de março de 2008

Só para esclarecer...

Este é o meu horário deste ano. Peço desculpa pela pequenez das imagens, mas ainda sou novata nisto de inserir imagens aqui!
Como tenho mais de45 anos, ainda beneficiei de 4 horas de redução por idade na componente lectiva (com o novo estatuto, essa redução apenas acontecerá aos 55anos).



A azul, estão assinaladas as horas de aulas e as que são legalmente equiparadas a aulas – a Direcção de Turma e a reunião semanal de conselho de turma do CEF.
A rosa, assinalei as horas «não lectivas».
A cinza assinalei as horas em que posso, efectivamente, trabalhar na escola, para além do horário - desde que a sala de trabalho dos professores não esteja ocupada e haja computadores livres e a funcionar. Também posso ficar na sala de professores a trabalhar se houver um portátil livre ou se tiver coisas para escrever à mão ou para ler e corrigir.
A vermelho assinalei as horas em que podem decorrer reuniões em tempo de aulas. É verdade que não há reuniões todas as semanas, mas há semanas em que tenho 3 reuniões.

Vamos agora imaginar que, para cada tempo de aula, eu, que já tenho uma experiência razoável (sou professora há 23 anos), precise de outro tanto para a preparação e assinalemo-lo a verde:




As «horas não lectivas» são preenchidas com apoios. Num deles chego a ter 12 alunos. Nos outros tenho 3 num, 3 noutro e 1 noutro. Qualquer deles exige preparação – vou esclarecer dúvidas, fazer trabalho prático que, por vezes, não pode ser feito na aula por falta de tempo, vou explicar matéria a alunos que têm dificuldades e tudo isto tem que ser preparado. Como sou uma professora experiente, coloquemos lá 45 m de preparação por cada 45 m de apoio – e é pouco… - assinalados a roxo:


A tutoria é o acompanhamento a um aluno cujo comportamento é problemático. É frequente que tenha que pesquisar, que preparar actividades, mas vamos imaginar que não.
A reunião semanal do Conselho de Turma do CEF exige preparação: tenho que terem ordem o dossier da turma, contactar os Encarregados de Educação (que são mais difíceis de encontrar, às vezes, do que o Presidente da República!) – o que faço nas horas de Direcção de Turma, além do registo informático das faltas e respectivas justificações, bem como a comunicação das mesmas aos referidos Encarregados de Educação. Vamos supor que o tempo semanal de Direcção de Turma chegue – que raramente chega…

A hora de Trabalho do Departamento tem MESMO que ser preparada. Como tenho dois níveis (e sou uma felizarda, porque há quem tenha até 5), reúno com dois colegas – com um tenho em comum o 8º ano, com outro o 7º, para aferir critérios, comparar progressões e dificuldades, elaborar planificações conjuntas ou até partilhadas, etc… Imaginemos que tenho que trabalhar 90 m por semana para essas reuniões – de novo porque já sou velha experiente. Assinalo-as a laranja:


Falta ainda a correcção de trabalhos dos alunos, sobretudo testes, mas também fichas, textos e pesquisas, que são demasiado longos para ser corrigidos nas aulas. Como tenho perto de 60 alunos – e sou uma privilegiada, pois tenho três turmas reduzidas, já que têm alunos com Necessidades Educativas Especiais, além de que, sendo professora de Língua Portuguesa, tenho 4 tempos semanais com cada turma. O ano passado, tive um colega de Informática que tinha 13 turmas e este ano tenho uma colega com 10 turmas (a 22 alunos, mais ou menos, por turma, façam as contas ao monte de testes ou de trabalhos) – vamos a que dedique 90 minutos semanais a esta tarefa, assinalados a preto:



Mas o meu Ministério espera que eu me mantenha em formação ao longo da vida. Para isso dá-me dispensa das «horas não lectivas». Como necessito de me deslocar, no mínimo até à cidade mais próxima (uns 15 m de carro) e voltar (outros 15 m de carro) estou um bocado limitada.

Vamos agora ao ano lectivo:



A azul, tenho os períodos de aulas. A laranja, as reuniões de avaliação. A laranja mais carregado o trabalho de formação de turmas, horários, matrículas. A branco e a cinza, estão os períodos de férias, deixando claro que, nos assinalados a cinza o professor pode ser chamado à escola e é obrigado por lei a apresentar-se – embora, normalmente, isso (o ser chamado) não costume acontecer.

Tudo o resto – que os professores trabalham 12horas por semana ou que têm 4 meses de férias – são mentiras estúpidas e mal intencionadas, propaladas por quem tem interesse em denegrir a imagem dos professores ou por quem fala do que não sabe e imagina, por exemplo que, quando os meninos estão em casa, os professores também estão.
Quanto ao desgaste que a profissão implica, proponho um simples exercício para quem tem filhos. Ao fim de uma semana de férias com dois filhos adolescentes em casa, como se sentem? Multipliquem os filhos por dez, a semana por trinta e acrescentem-lhe o agravamento acrescido – quando finalmente crescem e abandonam a «idade do armário», são substituídos por uma nova fornada de adolescentes na «idade do armário».

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