terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os burros de carga de acção educativa

Quando eu andei, na escola chamavam-se «contínuos». «Sô Contino» em dialecto de aluno. Havia um em cada corredor, vários no bufete, um na portaria, um no PBX, vários nos recreios, um em cada laboratório... Depois, reduziram-lhes drasticamente o número e passaram a chamar-lhes «auxiliares de acção educativa». Agora, reduzidos ao mínimo dos mínimos, cada um a fazer o trabalho de quatro pessoas, permententemente esfalfados, esgotados de trabalho, proponho que passem a chamar-se «burros de carga de acção educativa», porque é assim que são tratados.
E aqui fica o meu enorme obrigada às auxiliares de acção educativa da minha escola, que me espanto como ainda não caíram para o lado...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Boa estratégia!

Esta Estou pronta a usá-la, a propagandeá-la, a defendê-la... Mas que há por aí uns «colegas» que, todos contentes por serem «titulares», enquanto que outros não o são, porque se todos fossem perdia-se o gozo da coisa, andam a cozinhar «fichas» e «grelhas» nas quais se deliciam com o antegosto de lá cozinhar os colegas não «titulares»... ai isso há!

Educação?! Física?!



Arrisco-me a ser assassinada pelos colegas de EF, mas não me sentiria bem comigo mesma se não colocasse esta dúvida existencial que me tem moído a cabeça nos últimos anos, quer como mãe de uma aluna, quer como directora de turma: QUE DIABO SE PASSA COM A EDUCAÇÃO FÍSICA EM PORTUGAL? Como é possível que raparigas que são excelentes alunas de balett tenham 10 a EF? Como se explica que alunos e alunas que são atletas de competição tenham 10/11 a EF?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ele há coisas...!

Estive este fim-de-semana, um bocado engripada, a rever Harry Potter e a Ordem da Fénix. Lá pelo meio, tive uma espécie de iluminação - aquela Dolores Umbridge não vos lembra ninguém? Aquele Ministério da Magia não vos lembra nada? Aqueles «Decretos Educacionais» não vos trazem nada à memória?

Famílias numerosas

Descobri hoje que pertenço a uma família numerosa - o pai, a mãe, uma avó, uma avó-e-um-avô, uma tia e três filhos (eu incluída), que era o pessoal que morava lá em casa quando eu era pequerrucha, às vezes ainda acrescido de uma ou outra prima a estudar em Lisboa.
Ainda não estou em mim.
Eu, o marido, e as duas filhas formaremos o quê? Uma família de média dimensão? E os almoços de sábado, em Benfica? Uma família a transbordar - é verdade que faltam sempre cadeiras à última hora - para fora da casa?
Afinal, o que é que é mesmo uma família? Papá-mamã-fifis?
Ah, e tudo isto porque me lembrei de que o presidente - ou seria o porta voz? - da Associação de Famílias Numerosas (seja lá isso o que for e represente quem representar), que ouvi na rádio há uns dias, não tem o dom da palavra e entre «não é?», «p'tanto» e «qué'd'zer» mal se entendeu o que queria...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O churrasco

Andamos a analisar grelhas. Temos analisado grelhas, modificado grelhas, imaginado como será grelhar alguém naquilo... Na sala de professoress vai um cheiro a esturro que não se pode. Ultimamente, ser professor é como participar num longo churrasco - e o almoço somos nós!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

E a moral da história vem a ser?

Hoje, numa turma de 9º ano, estudávamos o conto «O Tesouro», de Eça de Queirós. Durante a leitura, ao chegar ao momento em que Rui, depois de ter convencido um dos irmãos a matar o outro, mata pelas costas o irmão sobrevivente (e assassino), para ficar com a totalidade do tesouro, um dos garotos exclamou, de forma bem audível: «Esperto!».
Confesso que fiquei chocada. Sim, eu bem sei que é uma história, mas não consigo deixar de achar chocante que um miúdo de 14 anos já tenha uma mentalidade tão retorcida que possa, de ânimo leve, considerar esperto um homem que, para ficar com a totalidade de um tesouro (em vez de apenas um terço do mesmo tesouro), leve um dos seus próprios irmão a matar o outro e, em seguida, mate o que ainda está vivo.
Mas pensei melhor... ainda ontem uma telenovela de grande audiência terminou. Nas cenas finais, a vilã, que ao longo dos duzentos episódios matou, mentiu, trapaceou, semeou a discórdia, mandou matar a própria irmã, matou o marido, eu sei lá!, nas cenas finais, dizia eu, a supracitada personagem, antes de, riquíssima com a herança do marido assassinado, embarcar num avião para ir seduzir o marido da irmã, manda assassinar a sua própria filha, que já fora presa em vez da mãe.
Longe de mim exigir que a televisão tenha funções educativas a tempo inteiro. Mas enquanto pais americanos querem que a Bíblia seja retirada das bibliotecas escolares porque Adão e Eva mantiveram relações sexuais sem serem casados (juro que já li esta, embora não me lembre onde) ou que os livros de Harry Potter sejam proibidos porque falam de feitiçaria, uma novela de grande audiência, que é vista pelos mais novos - os meus alunos, hoje, bem falavam dela - não deveria ter um bocadito mais de escrúpulos? Ou vale mesmo tudo para ficar rico? Matar os irmãos? O marido? Os filhos?
Ná...! Vai-se a ver e sou eu que sou bota de elástico!