quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Pergunto-me...

A propósito disto...
Já ando nesta coisa do ensino vai para vinte e cinco anos. Desde pequena que quis ser professora. Durante muitos anos, gostei muito do que fazia e creio poder afirmar que o fazia bem. Acho que não exagerarei se disser que fui até ao ano passado uma boa professora, talvez mesmo mais do que apenas boa. Tive alunos difíceis e outros nem tanto. Tive alunos muito bons, alunos medianos, alunos a quem quase desesperei de conseguir ensinar fosse oque fosse. Mas quando me sentava a fazer o balanço do ano, ele era sempre positivo - eram mais os alunos que tinham aprendido, que tinham melhorado, que tinham ultrapassado dificuldades do que os que tinham ficado na mesma.
Desde que este ano começou, tenho vindo a duvidar cada vez mais de mim mesma: talvez esteja muito cansada, não sei, mas a ideia que tenho é que continuo a ensinar mas a maioria dos meus alunos recusa-se a aprender.
Quase todos parecem considerar o que aprendem nas aulas como coisa descartável: aprendem hoje, fazem dois exercícios e amanhã jurarão que nunca ouviram falar em tal coisa...
A maioria parece nunca ter feito um esforço na vida.
São um bando de queixinhas: têm computador e projector em todas as salas, mas ora está muito claro ora muito escuro, ora se vê mal ora se vê bem demais, tudo é «uma seca»...
E pergunto-me: é possível ensinar quem não quer aprender?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mas as crianças, senhores?


As escolas devem ser dos locais de trabalho mais desconfortáveis que existem. Em todas aquelas em trabalhei, quer como aluna quer como professora, reparei na necessidade que parece ter presidido à construção de que ninguém se sinta bem naqueles edifícios.
É frequente terem uma parede inteira em vidro impossível de tapar porque ,ou os estores foram colocados do lado de fora e onde é que já vão!, ou nunca os houve, o que faz com que, seja qual for o tipo de quadro, haja sempre uma hora em que não se consegue ver o que lá está. Como os manuais escolares são há já muitos anos impressos num papel que, além de pesado, é brilhante e reflecte a luz, a parede envidraçada também faz com que professores e alunos pareçam tolinhos a inclinar os livros das mais diversas maneiras, na vã tentativa de ver o lá vem escrito.
As mesmas paredes envidraçadas dão o seu contributo à temperatura que se faz sentir nas salas de aula: de Inverno, poucos professores têm coração para mandar os alunos despir os casacos ou descalçar as luvas – o normal é os miúdos estarem na sala tão agasalhados quanto podem, porque é frequente que a sala seja mais fria do que a rua. Não sei quem planeou a maioria das escolas deste país mas a quantidade de edifícios escolares orientada Norte/Sul mostra que sabiam o que faziam. Se no lado norte o frio é de rachar, no lado sul nem é preciso ser verão, basta que esteja sol para as salas se tornarem em fornalhas, malcheirosas e sem ar.
O mobiliário escolar que actualmente se usa é um prodígio: as mesas e as cadeiras, com pés metálicos, têm uma tendência terrível para baloiçar e obrigam os alunos a realizar prodígios com calços de papel, fazem barulho ao menor movimento, pois são absurdamente leves, e permitem (eu diria que até encorajam) toda a casta de posturas erradas, más para colunas vertebrais em desenvolvimento e causadoras de dislexias. Gostava de saber o que aconteceu às antigas carteiras escolares de boa madeira, tampo inclinado e apoio para os pés e por que motivo foram substituídas por estes abortos.
As salas de aula são cada vez mais pequenas (as turmas é que nem por isso) e ficam frequentemente atafulhadas de mobília e alunos até à porta. Na minha (e não é caso único) há em cada sala um renque de cabides que não servem para nada, pois se alguém lá pendurasse casacos ou mochilas isso impediria os alunos da fila junto à parede de se sentarem.
O estrado, esse símbolo fascista da autoridade do professor, foi há muito abolido impedindo não só o professor de conseguir ver mais do que as duas primeiras filas de alunos como os alunos mais baixitos de chegarem ao alto do quadro.
As cores das paredes variam entre o amarelo da batata cozida, o castanho caca e o verde vómito, sem dúvida para estimular o apetite ou acalmar os ânimos.
Na construção de uma escola são deixadas para o fim (às vezes tão para o fim que nunca chegam a ser feitas) as salas consideradas supérfluas: laboratórios, ginásio, biblioteca, sala de convívio…
A comida das cantinas nunca foi boa, mas ultimamente, desde que todas, ou quase todas, foram entregues a empresas, é confrangedora. Parte-se do princípio de que só vai comer à cantina quem de todo o não pode evitar e, portanto, não há o mínimo esforço para que a comida pareça atraente ou saborosa. E, de facto, só lá vai quem não tem outro remédio!
Que os professores tenham que trabalhar nestas condições não comove ninguém. Mas espanta-me que os pais deixem os filhos passar os dias nestes antros de frio polar/calor excessivo, sujidade e má comida. Ou será que acreditam que o sofrimento faz bem?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Há malta a fumar cada coisa!


Na semana passada, o Público trazia um estudo que conluía que a escola não está para os rapazes.
Concluía também que o que prejudica fundamentalmente o aproveitamento escolar dos rapazes é o comportamento pouco edificante dos mesmos - os rapazes que se portam normalmente, têm tão boas notas como as raparigas (e as raparigas que se portam muito mal têm tão más notas como os piores rapazes, acrescento eu).
Continuava, acrescentando que os rapazes são, de maneira geral, educados de forma mais permissiva, consentindo-se-lhes, porque é socialmente aceite e até esperado, que sejam barulhentos, desatentos, desinteressados, agressivos...
Lá pelo meio, ainda atirava com umas culpas às professoras que, por serem mulheres, privilegiam as raparigas (go figure!).
Propunham alguns arremedos desolução delirantes - o melhor era dar notas aos rapazes apenas pelo aproveitamento. Mais ou menos assim: se o menino faz testes com 90% deve ter 5, mesmo se nas aulas arrotar sonoramente, bater nos colegas ou aliviar o intestino a um canto. Partindo do princípio de que um rapaz que se porta malérrimo é simultaneamente capaz de notas espantosamente boas.
Em linha alguma propuseram que se passasse a educar os rapazes de outra maneira. Nenhum dos «estudiosos» pensou que, uma vez que já passámos a fase dos caçadores/recolectores, os homens são têm necessidade ser grunhos. E só têm a ganhar.

A biblioteca da minha escola tem um novo logotipo


Ele aqui está, da autoria do Tiago Amendoeira, aluno do 10º I