sexta-feira, 27 de junho de 2008

À consideração de quem lê

«Politicamente correcto» tornou-se num palavrão. Quando se esgotam os insultos que envolvam o mau comportamento sexual das antepassadas femininas do insultado, que duvidem da sua inteligência ou que pretendam referir a sua orientação sexual, chama-se-lhe «Politicamente correcto».
Quando oiço sacar do «Politicamente correcto» como arma, lembro-me de que é possível alguém considerar-se legitimamente boa pessoa, e provavelmente sê-lo, e escrever coisas assim:
Estava eu na primeira classe, em 1978, puseram um atrasado mental na turma. Experiência primeira de muitas de um eduquês que actualmente mostra os frutos da sua aberrância. Este atrasado mental, com traços acentuados de mongolóidismo, mal sabia falar. Pensou-se então em juntá-lo aos normais para ver se evoluía (também fizeram uma experiência assim com uma criança e um chimpanzé). Resultado, não sabia desenhar um "A", nem sabia o que era um "A", mas passava as manhãs aos gritos, a agredir os colegas das carteiras mais próximas, riscando-lhes os papéis, atirando as coisas ao chão. Era de facto um aluno com necessidades especiais. Necessitava de um colete de forças e de um Valium. Nesse tempo ainda servia a régua de madeira da professora que tinha o dom terapêutico de o acalmar enquanto a mão doía. Depois esquecia-se e voltava ao mesmo. Actualmente parece que já não é assim. Já não se tenta sequer pô-los a desenhar o "A". Dá-se-lhes logo a escolaridade obrigatória. Pois não, meus amigos, isto não tem nada a ver com fazer boa figura perante a CEE mas com certas ideias deturpadas de vítimas de um regime demasiado rígido que quiseram à força garantir que todos os alunos eram iguais

In http://gotikka.blogspot.com/2008/06/massa-amorfa.html
E fico a pensar o que se passará na cabeça de quem, considerando-se boa pessoa e provavelmente sendo-o, consegue pensar e escrever assim. Acrescento que o me ofende não é o que é relatado, pois considero que todos têm direito de se queixar do que consideram mal feito. É a linguagem e o pensamento que lhe subjaz...

2 comentários:

Pedro disse...

A lógica da mensagem percebe-se e, provavelmente, até pode ser subscrita. Agora a forma como a mensagem é transmitida é de repugnar. As palavras têm significados e quando a ironia é confundida com má-educação estamos conversados. Medir as palavras é de bom tom, sobretudo quando o tema diz respeito a pessoas com deficiências...

Nan disse...

É isso mesmo! Desde que a expressão «politicamente correcto» passou a palvrão, as pessoas «esqueceram-se» de que a ideia subjacente era evitar ofender desnecessariamente os outros. E até se tornou fixe dizer enormidades, propsitadamente ofensivas, e orgulhar-se de se ser «politicamente incorrecto»