Aqui há uns sete ou oito anos fui aplicadora de testes PISA. Os testes, para quem não os conhece, são em forma de caderno: a página da esquerda tem o texto (que pode ser um texto escrito, uma gravura, um gráfico...) e a página da direita tem as questões relacionadas com esse texto (de escolha múltipla, de resposta directa, de interpretação...).
O aplicador passa as três horas do teste a olhar para os alunos, por isso tem ampla oportunidade de observar como eles trabalham. A maioria dos alunos a quem apliquei os testes - arrisco dizer que perto dos 70% - começa imediatamente a escrever, sem sequer passar os olhos pelo texto, quanto mais lê-lo. Suponho que isto diz muito sobre um dos grandes problemas do nosso ensino, que também se vê nos testes que normalmente dou aos meus alunos: tudo o que dá algum trabalho e não proporciona satisfação imediata, é deixado para trás. Assim, o que implicar leitura e/ou respostas extensas é deixado por fazer.
Quantos colegas já passaram pela situação que a seguir descrevo? Está-se na aula a fazer um exercício escrito. Um menino pergunta: «S´tora, o que é que é para responder na 2?» A professora lê a questão em voz alta. A criança ilumina-se: «Ah! Era isso!» O que se passa é que não leu a pergunta porque isso dá demasiado trabalho, ou então lê tão devagar que a pergunta não chega a fazer sentido, porque quando chega ao fim da leitura já não se lembra do princípio, dificuldade que, por sua vez, é filha da aflitiva falta de prática de leitura.
Estarei enganada?
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