
As escolas devem ser dos locais de trabalho mais desconfortáveis que existem. Em todas aquelas em trabalhei, quer como aluna quer como professora, reparei na necessidade que parece ter presidido à construção de que ninguém se sinta bem naqueles edifícios.
É frequente terem uma parede inteira em vidro impossível de tapar porque ,ou os estores foram colocados do lado de fora e onde é que já vão!, ou nunca os houve, o que faz com que, seja qual for o tipo de quadro, haja sempre uma hora em que não se consegue ver o que lá está. Como os manuais escolares são há já muitos anos impressos num papel que, além de pesado, é brilhante e reflecte a luz, a parede envidraçada também faz com que professores e alunos pareçam tolinhos a inclinar os livros das mais diversas maneiras, na vã tentativa de ver o lá vem escrito.
As mesmas paredes envidraçadas dão o seu contributo à temperatura que se faz sentir nas salas de aula: de Inverno, poucos professores têm coração para mandar os alunos despir os casacos ou descalçar as luvas – o normal é os miúdos estarem na sala tão agasalhados quanto podem, porque é frequente que a sala seja mais fria do que a rua. Não sei quem planeou a maioria das escolas deste país mas a quantidade de edifícios escolares orientada Norte/Sul mostra que sabiam o que faziam. Se no lado norte o frio é de rachar, no lado sul nem é preciso ser verão, basta que esteja sol para as salas se tornarem em fornalhas, malcheirosas e sem ar.
O mobiliário escolar que actualmente se usa é um prodígio: as mesas e as cadeiras, com pés metálicos, têm uma tendência terrível para baloiçar e obrigam os alunos a realizar prodígios com calços de papel, fazem barulho ao menor movimento, pois são absurdamente leves, e permitem (eu diria que até encorajam) toda a casta de posturas erradas, más para colunas vertebrais em desenvolvimento e causadoras de dislexias. Gostava de saber o que aconteceu às antigas carteiras escolares de boa madeira, tampo inclinado e apoio para os pés e por que motivo foram substituídas por estes abortos.
As salas de aula são cada vez mais pequenas (as turmas é que nem por isso) e ficam frequentemente atafulhadas de mobília e alunos até à porta. Na minha (e não é caso único) há em cada sala um renque de cabides que não servem para nada, pois se alguém lá pendurasse casacos ou mochilas isso impediria os alunos da fila junto à parede de se sentarem.
O estrado, esse símbolo fascista da autoridade do professor, foi há muito abolido impedindo não só o professor de conseguir ver mais do que as duas primeiras filas de alunos como os alunos mais baixitos de chegarem ao alto do quadro.
As cores das paredes variam entre o amarelo da batata cozida, o castanho caca e o verde vómito, sem dúvida para estimular o apetite ou acalmar os ânimos.
Na construção de uma escola são deixadas para o fim (às vezes tão para o fim que nunca chegam a ser feitas) as salas consideradas supérfluas: laboratórios, ginásio, biblioteca, sala de convívio…
A comida das cantinas nunca foi boa, mas ultimamente, desde que todas, ou quase todas, foram entregues a empresas, é confrangedora. Parte-se do princípio de que só vai comer à cantina quem de todo o não pode evitar e, portanto, não há o mínimo esforço para que a comida pareça atraente ou saborosa. E, de facto, só lá vai quem não tem outro remédio!
Que os professores tenham que trabalhar nestas condições não comove ninguém. Mas espanta-me que os pais deixem os filhos passar os dias nestes antros de frio polar/calor excessivo, sujidade e má comida. Ou será que acreditam que o sofrimento faz bem?