quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Essa é que é essa...!

De Joao Cardoso a 11 de Novembro de 2008 às 13:23
Poucas coisas são tão irritantes como disparar plurais sem olhar para o alvo: o que é isso de “os professores”? Falamos de 140 / 150 mil humanos que têm a mesma profissão. Se quer generalizar começamos pela treta mor: os professores são avaliados desde a década de 90. A legislação nunca foi regulamentada para que se pudessem candidatar a “Muito Bom”, é verdade, mas a responsabilidade é dos responsáveis ministeriais. Os relatórios por vezes nem lidos eram, mas a culpa não é dos avaliados. Curiosamente os parâmetros da avaliação eram muito mais extensos e complexos do que os desta lei.
Sem consequências? Conheço casos de quem parou na carreira, por não feito as formaçõezinhas obrigatórias, leccionadas em eduquês. Não conheço casos em que alguém tenha obtido avaliação negativa pela sua incompetência. Pois não. Nem alguma vez o iria conhecer com esta lei de avaliação pelo simples facto de que ela se destina não a detectar os incompetentes mas sim a evitar a progressão na carreira, a mesma razão pela qual a regulamentação da anterior nunca foi feita...
As generalizações são tramadas. O Rogério na mesma caixa de comentários diz que é avaliado pelos seus alunos, na universidade. Eis um argumento de uma honestidade a toda a prova. Omite que essa avaliação em nada lhe mexe na carteira. Omite que nas universidades a reprovação de um professor, por exemplo em provas de agregação, é notícia de jornal. Mas devo-lhe dizer que por princípio até estou de acordo. Só os alunos podem efectivamente aferir da qualidade do trabalho dos seus professores, já que são os únicos que assistem às suas aulas, as verdadeiras, e não as preparadas para serem assistidas por terceiros.
Claro que descortino algumas dificuldades se esta lei contemplasse esse princípio, em particular no que toca aos educadores de infância. E acarretaria sempre o problema de os professores avaliarem os alunos o que se presta a alguns negócios e chantagens. Mas na prática como um professor vai ser avaliado também pelos resultados dos seus alunos, a perversão já lá está.
E esse é o segundo objectivo desta lei: acabar com o insucesso estatístico. Ou está a ver alguém que tendo definido nos seus “objectivos individuais” uma taxa de aprovação de 90% não a vá depois cumprir? Eu estou: o profissional honesto e competente. O que sai tramado.
Em matéria de paralelismos anedóticos, continuo à espera que os médicos sejam avaliados pelos doentes, os juízes por queixosos e acusados (presumíveis, deixa cá ver se tenho de condenar este ou se estrago as minhas estatísticas para este ano) e já agora os defensores oficiosos que sem lerem o processo se limitam a pedir justiça...
Mas claro: médicos, juízes, advogados, os professores universitários, esses sim: querem ser avaliados. Os outros professores é que não.
Retirado daqui e reproduzido com aplausos. E, por mim, acabo aqui a discussão. Os argumentos patéticos e patetas que tenho lido por esses blogues metem nojo. Tenho pena, porque este é o meu país e gosto dele, mas tenho vindo a convencer-me de que temos seguramente uma percentagem anormalmente vasta de invejosos mesquinhos e reles que só se sentiriam satisfeitos se vissem todos reduzidos à miserável condição em que eles mesmos se encontram, em vez de se disporem a lutar para melhorar a dita condição.
post scriptum - muito boa prosa aqui. A ler e a reler

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