Na última reunião semanal do Conselho de Turma do meu CEF concluí, finalmente, que andamos aqui a pregar aos peixes.
Uma das professoras da turma está agora, no âmbito do programa que tem entre mãos, a falar de Prevenção Rodoviária. Chegou à reunião com os cabelos em pé: os meninos guiam (têm 15/16 anos na maioria, o mais velho tem 17 e o mais novo 14) os carros dos pais para ir à discoteca à noite, embebedam-se regressam a casa ao volante, o que aliás não tem importância nenhuma, já que os pais fazem o mesmo. Não precisam de ter o 9º ano para tirar a carta, porque o pai (ou o padrasto, ou o avô ou um tio ou seja lá quem for) já lhes prometeu que lhes compra uma carta de condução quando eles tiverem 18 anos, o que não tem qualquer mal, há que a carta do pai foi obtida pelo mesmo processo. Tótó é a professora, que guia um carrito barato (sem tunnings nem nada, que eles sabem bem de umas oficinas que tiram a «tralha» toda para se ir à inspecção e depois voltam a montá-la!), que nunca bateu com o carro por vir bêbada que nem um cacho (bater com o carro é uma coisa que dá pipas de estatuto!) e nunca esteve em coma alcoólico (que é absolutamente o supra sumo!).
Como, além do mais, ao fim-de-semana, de vez em quando, fazem uns biscates a pintar paredes ou coisa assim e ganham em dois dias mais do que a professora em duas semanas, estudar é para tótós, está bem de ver.
O encarregado de educação de um deles, chamado à escola porque o menino andava a pavonear-se com uma navalha, disse ao professor queixoso que não via problema nenhum no facto, pois se, no Alentejo, os homens andam todos de «naifa», por que raio é que o rapaz não há-de andar de «naifa» também?!
Outro encarregado de educação, como castigo ao crianço que teve cinco negativas pelo Natal, ofertou-lhe uma moto, explicando que «até nem foi muito, coitadinho!»
Hoje, um catraio de doze anos, que costuma dormir nas aulas porque fica a ver a televisão que os diligentes pais lhe puseram no quarto até às três da madrugada, explicou-me que não vale a pena estudar para o exame porque os exames não valem nada e até ouviu na televisão que vão acabar e que também não lhe vale a pena estudar este ano porque, como já é repetente, este ano não pode chumbar...
E eu vou ser avaliada pelo sucesso escolar desta malta?!?!?!?!
1 comentário:
E viva a nova pedagogia na não-exigência.
Estamos bem tramados, e os professores acabam por pagar uma factura pela desresponsabilização da familia e sociedade em geral que chega a ser bestificante na sua veia kantiana/absurda de que os miúdos acabarão por ter juízo eventualmente...
Que tristeza.
Que país...
Abraço de solidariedade...
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